Filha de um pai tecelão e uma mãe artesã, Rita sempre estudou em escola pública. Começou a trabalhar aos 16 anos como recepcionista. Casou-se aos 20 anos, e quando seu marido passou em um concurso público, mudaram-se para Santos, onde tiveram seu 2º filho. Quando voltaram a São Paulo, prestou vestibular e começou a cursar Nutrição em Mogi das Cruzes. Seu 1º emprego na área foi em Itaquaquecetuba. Terminou Mestrado em 2003 e 6 meses depois ingressou no Doutorado. Por estímulo da professora Celeste, prestou concurso na USCS e ingressou no curso de Nutrição no 2º ano de existência do curso, depois passou a supervisionar os estágios. Em 2015 mudou-se para São Caetano do Sul e assumiu a gestão do curso de Nutrição. Seu marido prestou para o mesmo concurso que Rita e também ingressou na USCS. |
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Pergunta:
Para começar, vou pedir para você... Ah, uma coisa que eu acabei não te falando, a ideia aqui, eu sei que é difícil, mas você pode esquecer que a gente está aqui com câmera e tal e bater um papo com nós dois mesmo, pode olhar para mim que ela vai pegar a imagem. Para começar, eu gostaria que você falasse nome completo, local e data de nascimento.
Resposta:
Meu nome completo: Rita Maria Monteiro Goulart. Local de nascimento... Eu nasci em São Paulo e em 1960.
Pergunta:
Fala um pouquinho das primeiras lembranças que você tem aí da infância, do ambiente familiar, o que te vem na cabeça?
Resposta:
Quando eu penso na minha infância, Luciano, eu me lembro da minha mãe, do meu pai e da vida simples que nós levávamos na verdade. Nós morávamos na zona leste, na Penha, meu pai era tecelão e minha mãe era uma artesã, uma mulher muito habilidosa. Ela era professora de artesanato, então ela fazia tricô, crochê, fazia flores, fazia chocolate, pintava... Ela tinha habilidades impressionantes e infelizmente eu não herdei as habilidades da minha mãe. Ela trabalhava com lojas, não sei se ainda as chamam de armarinhos, que vendiam lãs, vendiam tintas, então ela tinha lá as suas alunas e tinha suas alunas particulares, e eu ia muito com a minha mãe, ficava brincando naturalmente, enquanto criança... Eu tenho dois irmãos, então ela levava-nos juntos com ela. Nós ficávamos no fundo da loja brincando e aqueles materiais da loja que já não vendiam mais, eles davam para as crianças e a gente fazia colagens... Então eu me lembro dessa parte da minha infância que foi bastante feliz né, não era uma família bastarda, mas éramos muito unidos.
Pergunta:
Como era a Penha no início dos anos 60?
Resposta:
Nossa... A Penha tinha... A rua na qual eu morava, para você ter uma ideia, era uma rua não asfaltada, delícia... Então, era uma rua de terra, muitas ruas da Penha eram de terra, e tinha uma guia só, para futuramente vir o asfalto. Eu me lembro de que na época de chuva, quando acabava a chuva a criançada saía, ficávamos brincando na lama... Foi uma infância muito, muito feliz, né. Nós soltávamos pipa... Então nós tínhamos essa liberdade de brincar na rua, me lembro de na época de junho, nós fazíamos fogueira, grandes fogueiras, então se juntavam todos os vizinhos daquela rua, as crianças eufóricas... Cada vizinho fazia alguma coisa, um fazia pipoca, outro fazia pinhão, e nós fazíamos a fogueira, e os pais muito preocupados com as crianças, nos afastávamos das fogueiras, mas eram aquelas fogueiras enormes aquele cheiro de fogueira, de fumaça... Todas as vezes que eu participo de uma festa junina, eu fico próxima da fogueira, aquilo me traz recordações bastante felizes da minha época de infância então, a Penha era um bairro, e até hoje não é um bairro socioeconômico muito alto, são pessoas de nível socioeconômico médio... É disso que eu me lembro da minha infância: ruas sem asfaltos, as fogueiras de São João, das brincadeiras na rua, de jogar bolinha de gude... Eu fiz tudo isso junto com meus irmãos e crianças, tinha muitas crianças lá naquela rua.
Pergunta:
Como era essa relação com seus irmãos? Com o mais novo, o mais velho...
Resposta:
É. Meu irmão mais velho era muito peralta, então a briga era boa [risos], e a minha irmã era a menorzinha, caçulinha, então nós nos sentíamos meio responsáveis por ela. Eu me lembro de que quando íamos brincar na rua, ia meu irmão e eu, e a pequeninha ficava, e minha mãe recomendava ao meu irmão: ‘Cuide dela!', ele ficava muito bravo com isso porque ‘Ah, quero brincar e tenho que leva-la', já eu não me importava muito com isso não, mas eu me lembro de que como ele era um menino e era bem terrível em termos de peraltice, ele brincava com aqueles carrinhos de rolimã, que ele mesmo fazia, e eu queria ir junto [5'], então ele tinha que me levar junto ou deixar que eu brincasse também, era uma relação acho que normal entre irmãos, entre tapas e beijos nos dávamos bem.
Pergunta:
E nessas aventuras de carrinho de rolimã nunca tiveram nenhum tombo?
Resposta:
Eu tive um tombo seríssimo de bicicleta, de carrinho de rolimã não, eu era mais "caronista" dele, mas de bicicleta que nós brincávamos também, como a aruá era sem asfalto, a gente vinha de cima, e era uma rua que tinha uma inclinação, e eu morava da metade para o final. Então vínhamos de cima brincando de bicicleta, era uma rua muito irregular e eu me lembro de que um dia, por não ter visto uma pedra, foi a bicicleta, fui eu... Saí assim... Morrendo de vergonha e a as crianças todas rindo... Então, tiveram alguns acidentes lá, acidentes normais... Meu irmão também virava com o carrinho de rolimã, já foi para no pronto socorro, quebrou o braço... Mas são coisas da infância né.
Pergunta:
E a escola? Você se lembra do contato com a escola?
Resposta:
Eu estudei em escola pública, sempre estudei em escola pública, só que a escola pública da época em que eu estava no fundamental tinha uma qualidade muito boa, eu me lembro de ser muito dedicada, eu era muito dedicada aos estudos, eu gostava muito de estudar, então eu chegava a casa e imediatamente ia fazer minha lição... Eu fiz o ensino fundamental muito próximo de casa e ia sozinha, não tinham riscos naquela época então eu ia sozinha, meu irmão estudava ali em outro horário, eventualmente minha mãe ia me buscar, mas ia um grupo de crianças, eu nunca ia sozinha, isso foi no ensino fundamental, mas depois eu fiz o ensino médio, que antes não era assim né, era o grupo escolar, tinha outra classificação, perto de casa e aí eu fui para o colegial, que na época era colegial e o colégio ficava na rua Amador Bueno da Veiga, chamava-se Gabriel Ortiz e eu me lembro de que lá eu estabeleci relações de amizade, já estava na fase da adolescência... Sempre em escola pública e sempre me dediquei muito, os professores não faltavam então eu não essa história que a gente tem hoje de escola pública com excesso de violência, de falta de professores... Eu estudei em uma época na qual a escola pública realmente era de qualidade.
Pergunta:
E os primeiros passos no mercado de trabalho... Como foi o primeiro emprego?
Resposta:
Olha, eu comecei a trabalhar muito jovem, com 16 anos. Eu queria certa independência financeira e isso dependia mesmo de eu sair para trabalhar, que n época era possível, eu tirei minha carteira de trabalho com 14 anos, porque já queria de certa maneira trabalhar, minha mãe me segurou um pouco, mas aos 16 anos eu consegui meu primeiro emprego como recepcionista. Fui trabalhar em uma tecelagem, já que minha referência era meu pai né, tecelão... Não existe mais, mas era uma loja muito grande ali na rua Amador Bueno chamada Varetex, comecei como recepcionista me dei muito bem, pois eu gostava muito de me relacionar com as pessoas, de conversar com as pessoas... E um tempo depois eu fui convidada pela secretária da diretoria para ser auxiliar dela e ela me estimulou muito a fazer secretariado, na época havia secretariado, ela falou: ‘Você tem jeito, você tem perfil, estude secretariado' [...] Então essa foi minha primeira experiência, em seguida eu comecei o colegial, então eu fazia o colegial à noite nesse Gabriel Ortiz e fui para uma empresa na rua Florêncio de Abreu, e essa era uma rua, que até hoje deve ser assim, que trabalha muito com empresas de ferragem né, e aí eu comecei como secretária no departamento de vendas e também essa coisa da relação social para mim era muito tranquilo, conversar com as pessoas... E aí eu fui para a secretaria da diretoria. Nessa ocasião, acho que entre 18 e 20 anos, eu estudava, estava terminando os estudos no colegial e comecei a pensar na faculdade, falei: ‘O que eu vou estudar?' e nessa época eu comecei a me interessar muito por alimentos, olha que interessante... Mas não pelo preparo. Minha mãe é filha de italianos, então além de ela fazer seus trabalhos manuais, ela cozinhava muito bem, muito bem, então eu comecei a me interessar por alimentos, mas não a como prepara-los, eu queria saber o que os alimentos, quais funções os alimentos exerciam dentro do organismo, a questão da saúde... Isso me interessou muito e eu comecei a fazer leituras a respeito, comecei a ler revistas [10'], depois livros... e quando eu terminei o colegial, apesar de eu estar em uma área de secretaria como secretária de diretoria, eu quis estudar nutrição, falei: esse é o curso que eu quero fazer porque esse é o meu interesse', só que quando eu fui procurar o curso de nutrição, em São Paulo só havia três cursos, e os cursos eram matutinos e integrais... Guardei o sonho, porque eu falei: ‘Não vou parar de trabalhar. É através do meu trabalho que eu tenho a minha independência financeira', guardei como um sonho e falei: ‘No futuro eu realizo esse sonho de fazer nutrição'. O tempo passou mais um pouco, eu com 20 anos conheci meu marido Elias, que todos conhecem aqui, nós nos casamos, aí eu tive a minha primeira filha e somente nesse momento eu parei de trabalhar, o Elias meu marido, nessa época passou em um concurso público na COSIPA, em Cubatão, e uma das exigências é de que morasse na região, ou na baixada santista. Eu já tinha decidido parar de trabalhar para cuidar da minha filha, a primeira, e mudamos para Santos. Lá eu me dediquei exclusivamente ao cuidado da filha, fui lendo muito mais sobre nutrição porque era uma coisa que eu tinha muito prazer e curiosidade... Eu tive o segundo filho lá em Santos, e lá não tinha a menor condição de estudar e nem de voltar ao mercado de trabalho porque não tinha parente algum para cuidar das crianças, alguém de confiança e eu resolvi não voltar ao mercado e nem estudar enquanto as crianças não fossem um pouquinho maiores e mais independentes. Aí voltamos, tivemos uma oportunidade de voltar para São Paulo. Quando cheguei a São Paulo, eu falei: ‘Agora eu vou estudar. Não vou voltar ao mercado de trabalho antes de fazer o curso de nutrição', e aí eu tinha certa liberdade já, não estava trabalhando, a menina já estava com quatro anos e o garoto tinha dois, fui prestar vestibular, os cursos ainda eram os três, continuava sendo três universidades, e já não eram todas em período integral, a universidade de Mogi das Cruzes tinha um curso parcial, então eram todas as manhãs e duas tardes, e isso eu conseguia organizar melhor porque eu tinha mãe perto, tinha minha sogra perto, falei: ‘Agora eu consigo me organizar com as crianças maiores, já na escolinha e eu prestei vestibular, mas com a certeza de que era só uma experiência, pois não podia passar naquele momento já que eu estava muito tempo longe dos estudos e para a minha surpresa, passei e passei em uma colocação muito boa, e comecei o curso lá na universidade de Mogi das Cruzes, na época só tinha na USP, em Mogi das Cruzes e na São Camilo, e como eu voltei a morar muito próxima da família que era da penha, era mais fácil para eu tomar aquele trem dos estudantes logo de manhã e ir, essa foi a minha vida por quatro anos. No último ano da universidade, eu fiz estágio, da forma que os cursos de nutrição são organizados mesmo, no último ano a gente vai para estágio, praticamente não vai para a faculdade, vai para os estágios que são de 900 horas. E eu fiz os meus estágios na área de indústria, decidi que não era bem o que eu idealizava como trabalho, depois fui para a área clínica, fiz estágio em um hospital e também não me achei muito dentro do hospital, trabalhar com o sofrimento humano para mim era muito difícil; e aí o último estágio foi em saúde pública, aí me encontrei. Trabalhei em Itaquaquecetuba, veja o lugar em que eu fui trabalhar, eu estudava em Mogi, morava na Penha e foi me oferecido um lugar em que os alunos não estavam muito dispostos a ir por conta da distância, mas era um ambulatório de atendimento a crianças desnutridas, aí falei: ‘Eu vou pagar o preço de transporte e vou', e fui para esse centro de referência, eu fiquei apaixonada, podia trabalhar com população bastante carente, mas o pouco que eu sabia em relação a alimentos, aproveitamento integral de alimentos e a orientação na alimentação de uma criança, eu pude ali colocar tudo isso em prática, então fui e me apaixonei pelo estágio, depois ampliou para a gestação de risco e nós atendíamos no ambulatório, sempre acompanhados pelos professores e pelos profissionais, crianças desnutridas e gestantes de risco. Fiquei assim... Dediquei-me demais a esse estágio. Eu me formei em 1989, em dezembro de 1989 e assim que eu me formei, em dezembro eu já fui convidada a ficar, ouve uma vaga de nutricionista porque estava ampliando muito a gama de crianças atendidas, elas eram atendidas [15'] em unidades básicas de saúde e ali era o centro de referência; o trabalho cresceu, repercutiu bem e eu fui convidada a ficar, foi o meu primeiro emprego como nutricionista, fui trabalhar em Itaquaquecetuba, e como eram 6 horas, eu ainda conseguia conciliar o trabalho, que era de manhã, eu tinha que entrar às 8 horas, tinha que sair bem cedo para poder chegar até lá, e era das 8h até às 14h, se não me falha a memória... Então chegava em casa, as crianças tinham ido para a escola de manhã, eu passava a tarde com eles... Esse foi meu primeiro emprego. Depois de dois anos aproximadamente nesse trabalho, eu fui convidada na própria universidade em que eu me formei, a assumir a disciplina como professora, e eu fiquei [expressão de choque], ‘Nossa! Vai ser muito desafiador... ', eu não tinha preparo né, como na verdade acho que o profissional que é formado e vai para a docência, ele não tem aquele preparo que teoricamente teria que ter, então eu não tinha esse preparo para aula, só que eu encarei isso como desafio, era por seis meses porque uma professora da disciplina que na época se chamava materno infantil, estava se afastando, havia pedido licença, e a coordenadora, pela proximidade e por me conhecer como aluna, e soube depois que eu fiquei contratada no local do estágio, ela me convidou por seis meses, eu encarei aquilo como um desafio e aceitei... E aí me encantei com a sala de aula, em poder de alguma maneira contribuir com a formação de outros que seguiriam a mesma profissão e percebi também que eu precisava de mais informação e de maior conhecimento. Então nessa época, ainda na metade do período de docência, eu fui até a faculdade de saúde pública, eu sabia que lá tinha mestrado, e fui procurar um professor, um professor do departamento materno infantil, porque como era aquele conhecimento que eu queria ampliar... Eu encontrei lá o professor que foi assim o meu mentor, o professor Arnaldo Siqueira, hoje ele já está aposentado... E ele fez uma entrevista, porque para entrar como aluno especial, você precisaria passar por uma entrevista e ele era, naquela época, o chefe desse departamento de materno infantil e ele me perguntou: ‘Qual o seu interesse em fazer a minha disciplina?', era a disciplina dele que eu queria fazer, era crescimento intrauterino, tinha tudo a ver com o que eu discutia com meus alunos, e eu falei: ‘Olha, estou docente. Fui convidada, estou docente e quero aprofundar meu conhecimento para depois ver se eu realmente vou fazer mestrado e ver se eu me identifico aqui', ele falou: ‘Olha, você tem o perfil desejado: docência. Está aceita. ' E eu fui aceita naquele próximo semestre para fazer a disciplina dele como uma aluna convidada, porque eu queria saber se realmente era isso que eu... Era um investimento muito longo de estudo né, mestrado e tal... Aí terminou o semestre e a professora... Houve algum problema, não sei qual, e ela não voltou, então ela pediu demissão e nesse momento eu fui convidada a ficar como professora, agora não mais com o tempo determinado, e assumi com eles o compromisso de fazer o mestrado... Um compromisso com termo assinado e tal. Como eu tinha me identificado com essa área, eu topei, era um dia na semana, eu trabalhava todos os dias de manhã e como o curso lá era de manhã, um dia da manhã eu ia dar aula em Mogi das Cruzes e fazia o período da tarde, fiz uma troca. Ao final do ano eu prestei concurso para o mestrado, fui aprovada e daí começou meu trabalho como... Acho que estudante né, eu ia para Itaquaquecetuba, dando aula e comecei o mestrado. Era tão pesado na época o mestrado e eu me sentia assim... No primeiro ano eu tinha que fazer doze disciplinas, eu me sentia como se estivesse novamente em uma graduação, aí eu percebi que não iria dar conta. Eu tinha os filhos adolescentes, eu tinha o trabalho em Itaquaquecetuba, eu tinha aula e tinha o mestrado, percebi que não ia dar conta, não ia fazer bem feito, alguma coisa ia ficar a desejar e eu resolvi sair do emprego. Aí todo mundo naquela época: ‘Mas como? Concursada na prefeitura de Itaquaquecetuba, você vai pedir demissão?', falei: ‘É que eu estou vendo futuramente outra possibilidade de atuação. ' [...] Pedi demissão e iniciei o mestrado como aluna regular, e o tempo regular naquela ocasião eram de quatro anos, aí a gente tinha que ou entrar em um projeto de um professor, ou apresentar um próprio projeto [20'], como eu tinha a experiência de Itaquaquecetuba, e eu tinha dados daquelas crianças que nós atendíamos desnutridas, eu resolvi apresentar meu próprio projeto e trabalhar com aquelas crianças, com aqueles dados que eu tinha. Foi aceito o projeto e como eu tinha que levantar meus próprios dados, estava sozinha nesse projeto e com mais aulas, já que ampliou o número de aula, no ano seguinte eu fui convidada a dar aula na Universidade de São Judas Tadeu porque a coordenadora de Mogi que tinha me convidado saiu de Mogi e foi para o São Judas e me convidou para dar aula lá de nutrição materno infantil, e eu aceitei. E aí então eu estava com duas faculdades, o mestrado e fazendo o projeto sozinha, aí eu tive que prorrogar, fiquei cinco anos fazendo aquele mestrado e isso foi em 2003, e eu comecei a fazer o mestrado... É se não me falha a memória, eu terminei isso em 2003. Quando eu terminei o mestrado, eu estava já nas duas universidades, e eu disse a mim mesma: ‘Chega!'- Eu tive que prorrogar para conseguir terminar- e eu disse para mim: ‘Chega! Cinco anos são bastante tempo de estudo' e depois de seis meses eu estava no doutorado [risos], descansei um pouco... E nesse meio tempo, entre o final do mestrado e esse início do doutorado, eu fui convidada pela professora Celeste _______ era coordenadora do curso de Nutrição na USCS, e ela tinha sido minha supervisora de estágio no hospital, na área clínica, e ela me ligou nesse final de mestrado dizendo que o curso era novo, estava começando em São Caetano e que ela acha interessante para a minha carreira profissional eu prestar o concurso e ser professora na USCS. Senti-me desafiada, não havia ainda prestado um concurso público, não na área de docência, fui e prestei o concurso público por estímulo da professora Celeste e passei, aí passei em primeiro lugar e naquele ano, em 2003, que foi quando eu ingressei na USCS, eu ingressei como professora, e aí que eu fui conhecer o município, embora eu estivesse na Penha, que é muito próximo, eu tinha muito pouco contato com São Caetano. Então em 2003 eu comecei como professora me parece que eu comecei no segundo ano e o curso tinha um ano só, estava então abrindo concursos para os professores agora nutricionistas. No ano seguinte, depois de dois anos na USCS, começaram os estágios, e os estágios curriculares são feitos em diferentes áreas e tinha a área de saúde pública, e meu concurso tinha sido na área de saúde pública, e aí a professora me convidou para ser supervisora de estágio. Aí eu já não dava conta de dar aula, iniciei o doutorado, estava em Mogi... Percebi que não iria dar conta e pedi para... Fiquei mais um pouco em Mogi das Cruzes, mas pedi demissão lá, porque eu estava na São Judas, estava na Mogi e estava na USCS, três universidades mais o doutorado, falei: ‘Não vai ser possível', saí de Mogi que era a mais distante, fiquei na São Judas e na USCS e fui fazendo o doutorado, mais quatro anos [risos], porque ainda era... Apesar de eu já ter completado o mestrado, eles tinham um número de créditos assim, na época que, para agora, seria um absurdo né, tantos créditos que tinha que se fazer nas disciplinas. Dois anos depois que eu entrei na USCS, a professora Celeste me convidou para fazer supervisão de estágio, aí eu comecei a conhecer o município, porque os estágios na área de saúde pública eram feitos em órgãos vinculados a prefeitura, não só em São Caetano, mas muitos aqui... Eu comecei a visitar as Unidades Básicas de Saúde, o Centro de Referência ao Idoso... E achei o trabalho fantástico, o trabalho que se realiza aqui em saúde pública, nas unidades, em atenção primária á saúde. Aí comecei a colocar no coração o desejo de vir morar aqui, porque eu falei: ‘Nossa! É uma cidade pequena, mas bem estruturada no sentido de sistema de saúde' que eu achei muito bem estruturado... E essa foi a minha trajetória desde o mestrado até o doutorado. Em 2015, passado quase 12 anos, realizei esse outro sonho [25'] e viemos morar aqui, saí finalmente da penha, daquele convívio mais próximo da família e viemos morar aqui no município, em São Caetano... e em 2015 eu fui convidada pela pró-reitoria para assumir a coordenação do curso, a professora Celeste acabou saindo porque ela morava distante, em Pirituba e retomou-se a um trabalho dela na prefeitura, outra professora do curso assumiu por um período e quando houve a troca de gestão, troca de reitoria, de pró-reitoria, o pró-reitor então em 2015 me convidou para assumir a coordenação que eu confesso que não era u sonho de consumo meu porque eu sempre gostei muito de ser docente, gostei muito da sala de aula e da pesquisa, então nós realizávamos muito trabalho com a população e isso se tornava um TCC, tornava-se um projeto de Iniciação Científica, um PIBIC, e eu gosto muito dessa área de pesquisa, tanto que eu fui para o mestrado e doutorado e sempre me encontrei nessa atividade. Então mudamos para cá em 2015, fui convidada a assumir a coordenação e desde 2015 eu estou na coordenação do curso de nutrição e com muito orgulho, porque a gente tem um curso muito bem estruturado, a gente tem uma estrutura de curso, de laboratório bastante interessante, porque eu estou em outra universidade ainda, mas comparativamente falando sobre o que eu já vivi em outras universidades e o que eu vivo nessa universidade, nós temos uma estrutura muito boa e eu tenho orgulho de trabalhar aqui.
Pergunta:
Ainda têm vários aspectos que eu queria perguntar...
Resposta:
Fui falando muito direto, não foi?
Pergunta:
Não. Está ótimo! A ideia é essa mesmo.
Resposta:
É mais ou menos isso, eu acho que resgatei u pouco dessa memória...
Pergunta:
Ah sim, _________________ [risos]. Mas eu queria voltar, tem vários aspectos na sua história, mas um deles diz a respeito a você... Você falou aqui do seu período na faculdade e depois já muito na...
Resposta:
Na sequencia.
Pergunta:
Já abraçando a docência né. Do que você se recorda desse período de faculdade, alguma aula ou alguma situação que depois, mais tarde você do outro lado da mesa se reconheceu ali com algum aluno, ou uma situação que você passou enquanto aluna que depois, já docente, você reviu aquilo e falou: ‘Opa! Isso talvez não seja assim', não sei se estou fazendo você me entender...
Resposta:
Vamos ver se eu entendi. O que eu me recordo desse período de faculdade, era assim a parte mais lúdica. Era o trem dos estudantes né, então eu tomava o tem bem cedo e o trem passa direto, ia até a estação dos estudantes e os estudantes iam jogando, jogando truco, jogando dominó, e como eu tinha pouco tempo para estudar, eu procurava um vagão que tivesse menos barulho e ia lendo [risos]. Eu me lembro de que as minhas leituras um pouco mais profundas eram no trem, eu pegava os livros na biblioteca e ia lendo, e eu pegava o livro... olha que interessante, na época eu pegava aquelas fichinhas, existiam aquelas fichinhas de arquivo, as fichinhas brancas, eu não sei o nome dela hoje, era uma ficha de arquivo em que eu colocava todos os capítulos, por exemplo, de um livro básico de nutrição que tinha sido referenciado por professores, então eu ia lendo no trem, porque era 1h de trem, 1 hora, 1hora e 10 minutos... Então eu ia lendo no trem o capítulo, independente do que estava sendo dado ou não, eu ia pondo um X porque como um livro técnico não é um livro de romance, você tem que ter alguma técnica para fazer a leitura, então eu lia, falava: ‘Ah, vou ler o capítulo de nutrição do idoso', eu lia e colocava um X. No final de uma no normalmente eu tinha lido um livro inteiro, todas as partes no trem, então isso foi um ganho para mim, essa leitura ida e volta. Agora, em relação à docência, eu enquanto aluno me sentia muito passiva no processo. Os professores vinham até a sala de aula, isso era uma forma pedagógica que ainda se repete, davam aquela aula teórica na lousa, ás vezes usava diapositivo, vocês se lembram disso? Era um tubo que tinha com um filminho que a gente colocava, então quando eles queriam projetar alguma imagem... Eu não me lembro bem se é esse nome, mas era um projetor de slides... olha a antiguidade [risos], mas foi isso. [...] Então eu me sentia passiva, eu gostaria de participar mais da aula, isso foi tudo durante a minha formação. Como professora, eu resolvi inverter um pouco isso, eu falei... Não me satisfazia, por exemplo, vou dar uma aula de aleitamento materno, falava tudo de aleitamento materno e referenciava o livro, tanto que eu lia depois o capítulo... Aí eu comecei a trabalhar um pouco mais ativamente com os alunos né, então eu dava o tema: ‘Nós vamos falar de aleitamento materno', eu selecionava uma série de artigos, isso eu ainda faço às vezes, artigos relacionados ao tema e falava: ‘Olha, vocês têm que fazer uma leitura", e depois eu sentava com os alunos e começava a discutir o que eles tinham lido a respeito do aleitamento materno, o que eles tinham destacado. Então, um pouco dessa inversão eu fiz em função da minha própria formação, da experiência que eu tive e que... É lógico que é importante a aula teórica e tal, mas precisa estar mesclado com uma atividade que o próprio aluno faça, porque a gente aprende quando a gente participa do processo, ou quando você tem que ensinar, então quando você coloca o aluno em uma roda em que ele tem que falar o que ele achou daquele tema e eu tenho o artigo, vou discutir com ele e todos vão ouvir você tem um pouco mais de cuidado, acho que para você ensinar, se você vai falar a respeito do tema, você tem que se apropriar desse conhecimento, então acho que isso estimula o aluno a sair da zona de conforto, de receber tudo pronto e começar a fazer as buscas. Eu usei como uma prática minha desde o primeiro semestre, no qual eu fui professora convidada, e acho que isso funcionou. Além disso, levei alunos para observação de atendimento e hoje nós fizemos isso na nutrição... No curso de nutrição da USCS, nós temos uma clínica, uma clínica de nutrição assim meio que cumprindo uma responsabilidade social com um atendimento a população do entorno, ou a população que é atendida em uma Unidade Básica de Saúde que eventualmente precisa de uma orientação nutricional, porque nós não temos um nutricionista em cada unidade básica do município, então ele sabe que lá é uma clínica e que lá tem professor e lá tem aluno. E nós temos feito agora, para você ter noção de como isso para mim é importante, desde o ano passado, eu o intitulei como estágio de observação, então nós, a partir do calendário de agenda de consultas elaborada por semestre, nós inserimos alunos a partir do terceiro semestre para ficar junto com professor e aluno no atendimento, porque aí ele começa já a vislumbrar qual vai ser o papel dele enquanto nutricionista no atendimento de um paciente que busca lá a perda de peso... Então nós temos muitos ali diabéticos, hipertensos, como dislipidemia, excesso de colesterol, obesidade crescendo no país, não diferente dos pacientes que atendemos... Então o aluno do terceiro semestre já começa a deslumbrar essa possibilidade. Nós temos o estágio de observação nas unidades básicas de saúde, por exemplo, agora em julho todo mundo está de férias, e nós temos uma escala de alunos que se interessaram a ir para a Unidade Básica participar de atendimento com o nutricionista... Então essa coisa de inserir o aluno nessa prática, eu acho fundamental.
Pergunta:
A pergunta era exatamente essa...
Resposta:
Era essa?!
Pergunta:
Sim, como a sua experiência como aluna impacta na... Ficou bem mais claro assim, vou fazer essa pergunta da próxima vez...
Resposta:
Eu não dei uma enrolando não? Ficou claro?
Pergunta:
Não, ficou claro.
Resposta:
Eu acho que eu queria um pouquinho de água, pode ser?
Pergunta:
Claro, pode ser sim. [...] Tranquilo?
Resposta:
Tranquilo. Não sei se estou falando rápido demais ou falando demais, mas é aquela coisa né, você começa a falar e se empolga né...
Pergunta:
Sabe que quando a gente começou esse projeto, a ideia era realmente de comemorar o aniversário da Universidade, mas até pela preservação da história oral e tal, nós fizemos um projeto que foi apresentado em alguns congressos, a própria Liane foi para o México...
Resposta:
Aí que legal... Ah, você que foi para Colima com a Priscila?
Pergunta:
Sim.
Resposta:
Ah, foi gostoso?
Pergunta:
Esse projeta mostra o quão as pessoas que passaram por aqui foram importantes... Você não para o tempo todo para refletir como foi sua vida...
Resposta:
Verdade.
Pergunta:
Então quando você analisa isso, é muito bom porque acaba sendo um processo de auto avaliação...
Resposta:
Auto avaliação, autocrítica... Legal, legal.
Pergunta:
A ideia é exatamente essa da gente bater esse papo. [35'] Assim como você começou a dar aula muito cedo, de acordo com seu relato, você foi mãe bem jovem, casou, começou essa vida de mãe e depois ainda foi atrás dos estudos e tal...
Resposta:
É.
Pergunta:
De novo vou fazer uma referência aí, como eram os seus pais e como foi a criação que você recebeu? E como é ser mãe, como é tentar tendo a referência lá de como foi com seus pais, como é esse exercício com os filhos, o que você vê ali e compreende, fala: ‘Poxa, minha mãe tinha realmente essa dificuldade e eu tenho essa', como isso acontece na sua vida?
Resposta:
Olha você vê Luciano que é engraçado né... Quando você faz essa pergunta, eu reflito no seguinte: meus pais não fizeram faculdade, eles não tiveram essa oportunidade de estudar. Eu me lembro de que a minha mãe, filha de italianos tradicionais, dizia que queria muito estudar, na época de adolescente para adulta, e o pai a proibiu! Olha aquela cultura, aquela sociedade machista né, o irmão mais velho sim poderia estudar, mas ela não porque ela era mulher e mulher era para... Essa é a fala que ela passa do meu avô, que a mulher foi feita para casar e cuidar de filho... E ela não teve essa oportunidade de estudar e fazer um curso universitário... Mas ela sempre nos estimulava a buscar, quando eu falei: ‘Olha, eu me interesso por alimento, comecei a ler sobre e vou fazer nutrição', ela não sabia bem o que era isso, falava: ‘Ah, mas nutrição?', na época era muito elitizado eu acho, porque tinham poucas faculdades, mas ela sempre me estimulou e depois que eu me casei e tive os filhos, o meu marido também me estimulou, ele sabia desse meu desejo de fazer esse curso e me estimulou muito a fazê-lo. [...] E com os filhos né... Eu não tive o exemplo dos pais que seguiram nos estudos, mas eu sempre quis e minha mãe sempre e incentivou, mais a minha mãe né, que teve o desejo e foi cortada, foi podada essa vontade de estudar... Ela me estimulava. Depois que eu tive os filhos, filhos pequenos né, quando eu voltei para São Paulo eu caçula tinha dois anos e minha filha tinha quatro, e eu precisava do apoio do meu marido para poder conseguir né, porque eu não queria entrar no mercado de trabalho para a área que eu já tinha experiência, mas eu queria estudar para ingressar... Ou não na questão de trabalho, queria fazer por vontade própria, porque queria conhecer um pouco mais daquilo que me interessava, eu sempre gostei dessa relação do homem e do alimento e da interação entre o homem e o alimento, e é exatamente isso que a nutrição estuda, estuda os alimentos, estuda o homem e depois a interação... E meu marido me estimulou muito também, me apoiou muito no cuidado com as crianças para que eu pudesse estudar. E os meus filhos sempre viram em mim e em meu marido essa coisa do estudo e do trabalho, então nós tínhamos uma vida muito agitada, tinham as crianças, tinha a casa, tinha o trabalho que sempre foi paralelo e tinham os estudos, e no mesmo tempo em que eu estava trabalhando, o meu marido estava fazendo... Não me lembro se na época era o mestrado ou o doutorado, mas fez o mestrado e o doutorado, então... Meu filho ás vezes entrava no escritório, meu filho pequeno né, e eu perdida ali com livros, papéis, estudando... Aí uma vez ele olhou para mim e falou: ‘Nossa mãe, será que um dia você vai virar papel?' [risos], ele tinha medo de que eu, por estar tanto naquele meio, de biblioteca, de papel, de caderno, a gente trazia os livros, não tinha internet, não vinha nada por e-mail¬, era tudo papel, então eu trazia aqueles papeis aqueles cardápios que os alunos faziam e meu filho pequeninho falou: ‘Será que um dia você vai virar papel?', eu falei: ‘Não. Virar papel eu não vou' [...] Então os nossos filhos tiveram esse exemplo do trabalho, do estudo... E nós não tivemos Luciano dificuldade nenhuma com eles, os acompanhamos, não em tempo integral, mas o tempo em que eu sempre estive por meio período em casa, acompanhando eles na escola, foram muito bem, nunca nos deram trabalho e eles decidiram o que fazer em termos de graduação, então eles já tinham, acho que como natural, o término de um ciclo de estudos e o início de outro. Acho que nunca viram eu e meu marido parar de estudar e tinham isso como coisa natural. Interessante que minha filha, quando eu comecei a discutir com ela: ‘O que você quer fazer? No que você vai querer trabalhar futuramente?', aí eu falei: ‘O que você acha da nutrição?', e ela falou: ‘Deus me livre, eu quero ser feliz. ' [risos] Aí eu falei: ‘Está certo! E engenharia?', o meu marido é engenheiro por formação né, e ela falou: ‘Nada disso. Eu quero ser feliz, mãe, eu vou fazer turismo', falei: ‘Faça!' [40'], ‘Então faça!', e ela foi fazer turismo que ela queria então nenhum dos dois seguiram a área de atuação nem minha que é a área da saúde, nem a do meu marido que é a área de exatas, de computação... Minha filha foi para turismo, porque ela queria ser feliz, e meu filho foi para a área de artes, ele é muito habilidoso, acho que isso ele puxou a minha mãe, muito habilidoso com desenho e aí ele foi fazer animação e criação, e hoje trabalha com isso, então ele é muito habilidoso, eu vejo em meu filho os traços de minha mãe. Então para os meus filhos eu acho que foi uma sequência natural à questão de encarar o final de uma etapa de estudo e a sequência do próximo... O que eu não tive, e meu marido também não já que os pais dele também não eram formados, acho que é próprio daquela época né, mas ele sempre foi estimulado pelo pai a seguir em seus estudos Então embora nos não tivéssemos tido o exemplo concreto de pais formados, nós tivemos o estimulo sim, e meus filhos tiveram os dois, o estimulo e o exemplo, tanto que meu filho achou que eu ia virar papel um dia [risos].
Pergunta:
Rita, você falou que um dia alguém chegou para você e falou: ‘Ah, tem uma universidade lá em São Caetano, por que você não vai lá e faz um concurso?', nessa época o Elias não trabalhava aqui ainda? Ou ele não conhecia a USCS?
Resposta:
Não! Olha que interessante nenhum dos dois conhecia a USCS, Elias trabalhava em outras universidades que agora eu nem me lembro e quando ele saiu da Cosipa... Quando eu voltei para São Paulo, ele ainda continuou trabalhando na Cosipa como engenheiro, mas já estava fazendo o mestrado, ele tinha o desejo de ingressar na área de educação, ele fazia o mestrado, nós voltamos, e ele continuou trabalhando na área de engenharia por mais alguns anos... Desculpe-me, eu me perdi... Você me perguntou como eu ingressei aqui... Bom...
Pergunta:
Onde eu ia chegar era: qual foi a sua primeira imagem da USCS, porque você falou que não conhecia...
Resposta:
Então, olha que interessante... Eu não conhecia até receber uma ligação da coordenadora que concebeu o curso e o processo pedagógico, e me ligou: ‘Olha, nós vamos ter um concurso público e gostaríamos muito que você prestasse... ' - Nós tivemos uma relação muito boa enquanto ela era do estágio e eu estagiária, e depois continuamos, apesar do estágio ter terminado, continuamos nos comunicando. Quando ela me ligou, eu falei: ‘Nossa, que interessante, um curso de nutrição... ' e na época também não tínhamos muitos cursos como hoje nós temos uma proliferação de cursos de nutrição, a cada estação de metrô a gente tem um curso... Então, eram poucos ainda, e quando ela me convidou, eu falei para o Elias, o meu marido, falei: ‘Olha, vai ter um concurso público, vamos entrar para ver', aí eu entrei, já tínhamos internet, já tínhamos o site... Entrei para ver quais matérias tinham que ser estudadas para o concurso e tal, e vi que tinha na área de sistemas de informação, que era o curso que tinha na época aqui, e o concurso estava aberto a todas as áreas e eu falei para ele: ‘Então vamos fazer também', aí ele me trouxe a São Caetano para que eu fizesse a inscrição, quando viu que também tinha para a área dele, falou: ‘Vou fazer o concurso também', falei: ‘Ok, vamos fazer'.
Pergunta:
Você que é a culpada...
Resposta:
É. Eu que sou a culpada... Viemos os dois, fizemos, ele passou lá em primeiro lugar, eu passei em primeiro lugar... E aí foi o que eu te falei, eu comecei a me encantar com o município, na verdade quando eu comecei a fazer a supervisão de estágio, que aí eu conheci as estruturas de saúde de São Caetano, até lá eu só vinha... Saía de Mogi na época, saía de uma faculdade às vezes e vinha para outra, só na sala de aula... Quando nós começamos não era nem esse prédio, Luciano, ali no Centro, eu comecei como professora em um colégio na Estrada das Lágrimas, um colégio municipal, sem estrutura naturalmente para um curso de graduação, mas esse foi o começo, e eu ia direto para esse colégio, que era um colégio do município, dava aula e ia embora, então me envolvia pouco com o município, até que depois de dois anos, quando começaram os estágios curriculares e eu comecei com a supervisão... Aí nós já tínhamos o prédio novo, com uma estrutura muito boa, até hoje... Enfim, comecei a conhecer o município quando comecei a fazer a supervisão, eu ia às unidades básicas para acompanhar os atendimentos de aluno.
Pergunta:
Você falou... Então naquele momento a USCS você conheceu naquele campus provisório na Estrada das Lágrimas...
Resposta:
Na Estrada das Lágrimas. [45']
Pergunta:
Qual a primeira impressão que você teve dessa instituição? Além da questão pontual do Campus, quer dizer, você chegou a um lugar que você não conhecia, qual foi o primeiro impacto?
Resposta:
Então, eu tive uma impressão muito boa porque eu vi o projeto pedagógico de curso, quando eu ingressei, a coordenadora me mostrou o projeto pedagógico e a inserção do... Não tinha ainda o aluno, mas no projeto pedagógico já havia todo o planejamento do curso, e a inserção do aluno no próprio município, e isso me pareceu bastante sério né porque quando eu fiz estágio, nós tínhamos poucos recursos, não tínhamos o acesso às unidades de saúde do próprio município no qual a universidade estava inserida. Quando eu cheguei e ela me mostrou o projeto pedagógico já havia toda essa parte que seria estabelecida com a prefeitura para que os alunos tivessem a oportunidade de vivenciar a prática e... Na época foi só o estagio curricular mesmo, o sétimo e o oitavo, hoje a gente começa mais cedo com esses estágios de observação. Mas o que me deixou assim impressionada, foi a seriedade do curso, a professora Celeste é uma profissional de referência na área, e ela juntamente aos professores que já estavam no primeiro ano, elaboraram todo esse projeto pedagógico... Para você ter uma ideia: quando eu iniciei o projeto pedagógico do curso, o primeiro projeto tinha mais do que quatro mil horas, era um curso bastante denso e isso me impressionou. Hoje, as diretrizes curriculares para o curso de nutrição preconizam o mínimo de três mil e duzentas horas, e o que a gente observa é que a CIES de uma maneira geral, e esses grandes grupos que vieram incorporando pequenas faculdades, eles ficam ali no limite mínimo estipulado pelas diretrizes curriculares, embora nós tenhamos em reformulações curriculares ocorridas dentro da USCS, tivemos uma redução de carga horaria, nós temos hoje um curso com três mil quatrocentos e cinquenta e três horas, e isso hoje é raríssimo, a gente conseguir um curso com mais de três mil e duzentas horas preconizadas pelas diretrizes curriculares, então essa seriedade do curso, essa densidade do curso, e o fato também dos professores ingressantes serem concursados, isso faz diferença, muita diferença, então quando me lembro do concurso público a que eu vim prestar aqui, eu fui a uma sala de aula as carteiras estavam... Eu estava absolutamente espremida, porque tinham muitos concorrentes e nossa, quando eu vi aquela sala de aula lotada, eu falei: ‘Moça vai ser muito difícil', só que essa era a primeira etapa né, que era a prova escrita, aí depois tinha uma segunda etapa que era o sorteio de um tema e a aula didática, então para chegar a ser professor da USCS naquele momento, você tinha que passar por uma série de critérios muito rigorosos, foram muito rigorosos mesmo. Aí tinha a prova de títulos e tudo mais... Então isso me impressionou, os professores vinham com muita qualidade, todos já se não portadores de diploma strictu sensu, que é o mestrado e doutorado, mas já em curso e com experiência de mercado, com experiência de aula... Então isso foi a primeira coisa que me impressionou no curso de nutrição de São Caetano, era a densidade do curso, a carga horária elevadíssima a que existia na época, muito superior a que hoje é preconizado, porque na época era três mil e setecentas horas, e já estava mais de quatro mil... Essa qualidade do corpo docente que eu acho que mesmo que você tenha uma mega estrutura, que você tenha laboratórios de primeira linha, equipamentos de última geração, biblioteca, que nós temos biblioteca física e virtual, nós temos acesso hoje a Evolution, a Minha Biblioteca, que te dá acesso a mais de 35 mil títulos, temos acesso livre ao portal CAPES de periódicos, então isso tudo conta naturalmente na formação de um aluno. Isso me impressionou bastante e me fez desejar estar mais tempo, ou ampliar a minha carga horária na USCS.
Pergunta:
Você acompanhou então o curso desde o nascedouro...
Resposta:
Desde o primeiro projeto pedagógico.
Pergunta:
No comecinho dele né, e nesse início com essa marca que você destacou. Você pode falar um pouquinho sobre a evolução desse curso? Não apenas do curso, mas da própria universidade, das coisas que você acompanhou [50'] que devem ser destacadas?
Resposta:
Posso sim. Eu me lembro de que nesse começo de curso, em 2004 talvez nós estivéssemos ainda lá na Estrada das Lágrimas e com uma ansiedade louca de ir para um prédio novo e com laboratórios, que antes não tínhamos, e com a clínica de nutrição, isso fez uma diferença grande na formação do aluno, então quando viemos para o prédio em que hoje estamos o campus Centro, nós ficamos encantados com a estrutura né, a estrutura de laboratório, aquele 5º andar do prédio do centro é todo laboratório, tem bromatologia, tem de nutrição, que na época, interessante né, na época eu achei que o laboratório estava muito bem equipado, com espaços adequados, e olha a evolução: começamos a aumentar e aumentar o número de alunos, e aquele espaço que nós tínhamos no laboratório ficou absurdamente insuficiente, essa evolução nós fomos vendo a partir do ingresso de alunos. Uma coisa que me marcou bastante foi a mudança curricular, porque de tempos em tempos a gente faz uma vista mais detalhada sobre o projeto pedagógico, e eu não me lembro agora exatamente do ano, mas foi proposto que o curso fosse modular, então acho que você se lembra dessa época né... Têm seus ganhos e suas perdas em um curso modular, mas um ganho que eu acho que foi interessante e se mantém até hoje foi a criação do Núcleo Comum, porque eu acho muito positivo, o estudante ingressa na universidade e ele não vai para uma sala de nutrição, ele vai para o Núcleo Comum fazer o primeiro e o segundo semestre, nesse Núcleo Comum, alunos dos diferentes cursos da saúde trocam seus saberes, desenvolvem projetos integrados juntos... Eu acho que aí já é um nascedouro de um trabalho de equipes multidisciplinar, que hoje ele é indispensável né, nenhum profissional é autossuficiente para cuidar da saúde sozinho, então eu acho que é importantíssimo que o profissional da saúde saiba trabalhar em equipe, valorize os demais profissionais e tenha essa ação mais integrada, então essa evolução eu achei muito importante, o primeiro e o segundo semestre serem compartilhados por diferentes alunos, diferentes postos, criando já uma cultura de multidisciplinaridade, então esse foi...
Apesar de ter naturalmente suas desvantagens, eu acho que isso é um ganho até hoje né, os alunos somente vão ser direcionados ao seu curso, a partir do terceiro semestre, então ele já teve na sua formação inicial essa visão multidisciplinar. A clínica, assim que nós viemos ao campus Centro, nós inauguramos a nossa clínica de nutrição e esse é um espaço interessantíssimo de aprendizado, temos os professores e temos os alunos estagiários, quando eles fazem saúde pública, eles também passam não todos, mas passam pela clínica de nutrição e tem essa possibilidade do aluno visualizar esse atendimento, ter essa experiência. Nós temos uma cozinha didática também, é a evolução né, vindo para esse prédio com essa cozinha didática, nós fazemos oficinas, então periodicamente você faz oficinas no qual você atrai a população do entorno, para discutir, por exemplo, o que é alimento light, o que é light, fazer uma preparação para entender isso, como aproveitar um alimento integralmente de forma que ele se torne mais nutritivo e você tenha um desperdício menor de alimento, já que no Brasil nós temos taxas de desperdício de alimentos elevadíssimas e isso eu creio que é por falta de informação da população, informação no sentido de aproveitar melhor esses alimentos, então o nosso espaço de cozinha didática também é usado para esse tipo de ação... Então eu acredito que todas essas mudanças que vieram ocorrendo ao longo dos anos, transformaram o curso em uma referência aqui no ABC, é um curso de referência sim, acho que posso dizer isso com segurança.
Pergunta:
Você falou que não imagina a atuação como gestora de curso, né?
Resposta:
Não, eu não.
Pergunta:
Porque você se vê na sala de aula...
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Fala um pouquinho dessa rotina: como é ser gestora de curso da USCS?
Resposta:
É. Ser gestora de curso acho que em qualquer lugar [55'] desse país, não é uma atividade muito tranquila né, porque você tem que trabalhar tanto os seus discentes, quanto o seu corpo docente e a questão administrativa, por exemplo, para conseguir a reforma do nosso laboratório, que eu falei o laboratório de gastronomia, na época que nós viemos eu achei perfeito e em 2015 ele já não era mais suficiente, estava absolutamente insuficiente e inapropriado por conta dos equipamentos antigos, então que está coordenando o curso tem que ter esse olhar, você tem que fornecer uma estrutura que seja compatível com a qualidade do curso que você está oferecendo, então não foi uma conquista muito tranquila porque como estamos nessa autarquia, tudo que pretendemos fazer, desenvolver ou modificar, depende de um projeto, o projeto tem que ser aprovado, a compra de equipamentos para por licitação... E eu acredito que nós conseguimos fazer isso em um tempo recorde, em um ano conseguimos fazer a ampliação, da área, modificando o layout, ampliando às ilhas de trabalho dos alunos e compramos equipamentos de ultima geração, mas essa coisa de coordenar da muito trabalho porque você tem que, além de tudo, fazer a licitação, ver quais equipamentos que seriam mais adequados e possíveis no espaço que temos... A questão de trabalhar com discentes né, porque no final de semestre nós temos alguns discentes que por algum motivo não conseguiram nota, estouraram em falta, e vêm tudo para a coordenação, então vão a coordenação para que o coordenador resolva todos os problemas possíveis, e não é possível fazer tudo isso. Mas em linhas gerais o trabalho administrativo é bastante árduo, muito árduo, exige, além de competência, paciência Luciano, paciência e calma para saber resolver essas questões todas, quantas vezes nós temos que consultar regimentos para poder tomar determinadas atitudes... Agora, o lado positivo, eu me vejo contribuindo, eu nunca trabalho sozinha, eu não sei trabalhar sozinha, acho que a minha formação multidisciplinar ficou marcada em mim, então eu trabalho sempre com um apoio do corpo docente, nessa semana de planejamento definimos qual vai ser a linha de ação na clinica de nutrição, por onde nós vamos à busca de estágios curriculares, que projeto integrado vai ser desenvolvido naquele semestre, porque o projeto integrado também é uma ação importantíssima, começam no terceiro semestre, os alunos se reúnem em grupos e definem um alimento ou um grupo de alimentos que serão trabalhados no quarto, então faz todo um projeto, estudo do alimento, a que fim específico ele poderia ser destinado... E no quarto semestre, todos os professores das disciplinas ficam envolvidos nesse projeto, até que combina na elaboração de um alimento, do código de rotulagem desse alimento, da avaliação de custo desse alimento, e uma banca final vai aprovar. Então esse trabalho todo passa pela coordenação, essas definições todas, mas sempre om o apoio do corpo docente, caso contrário o coordenador não consegue trabalhar sozinho.
Pergunta;
O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
A USCS hoje, ela representa assim, em minha percepção, um sonho realizado, acho que é bem isso. Estar trabalhando em uma instituição séria, em que nós não sofremos pressão para reduzir, por exemplo, a carga horária de curso, em que nós não sofremos pressão para demitir professor, porque tudo isso, Luciano, tem acontecido de uma maneira bastante triste e lamentável em outros locais. Então terminou o semestre e: ‘Vamos demitir professores que são mais caros, vamos admitir professores com custos mais baixos, que aí a universidade terá mais lucro', e na USCS a gente não sofre esse tipo de pressão, trabalhamos de uma maneira bastante serena, tranquila, definimos nossos projetos para cada semestre sem esse tipo de pressão, sem estarmos com empresários com ações em bolsas para de alguma maneira dar lucro... Isso me satisfaz bastante apesar de [1h] não ter sido meu sonho de consumo coordenar um curso, o fato de eu estar nesse curso, estar nessa universidade, à seriedade dela, a não pressão para levar o curso ao patamar mínimo... Isso me deixa bastante satisfeita.
Pergunta:
Você citou até a forma como você e o Elias acabaram fazendo o mesmo concurso né, participando do mesmo período, entrando na universidade praticamente juntos...
Resposta:
No mesmo ano.
Pergunta:
Como é trabalhar no mesmo ambiente, na mesma profissão, como essa relação marido e mulher é em conjunto na mesma profissão e na mesma universidade?
Resposta:
É uma união feliz, porque assim, vida de professor é muito árdua, falando como professora, então você está naquele período de tempo em um local de trabalho, mas quando você está em casa, você está trabalhando também, então... Ainda mais quem está envolvido com pesquisa, com mestrado, com a graduação, você leva para casa, você tem em seu computador uma série de demandas do corpo docente e do corpo discente, então isso ocupa um tempo bastante importante da vida. Fisicamente nós não estamos no mesmo local, eu trabalho em um campus, então essa coisa de estar trabalhando juntos, meio que esbarrando pelos corredores não acontece, o que eu também acho que é bastante positivo [risos], então eu estou no prédio do Centro e o Elias trabalha no prédio da Barcelona, então não existe essa proximidade, embora seja a mesma instituição, estamos em campus diferentes e não existe essa proximidade física. Mas o fato de eu às vezes ter que levar trabalho para casa, passar o sábado e o domingo corrigindo trabalho, corrigindo provas e corrigindo projetos, é a realidade dele também, por ele ter a mesma realidade, acho que minimiza conflitos, porque quando uma parte está muito sobrecarregada, passa sábado e domingo meio que roubando o tempo de família e o outro não tem essa mesma atividade, acho que aí é um gerador de conflitos. No nosso caso, tanto eu estou sempre envolvida com trabalhos e levo trabalhos para casa, quanto ele, então nesse aspecto é positivo sermos docentes. O fato de não estar fisicamente no mesmo lugar eu também acho que seja positivo para não haver, acho que, confusões em relação a essa partilha de atividades.
Pergunta:
Rita, você falou da questão da pesquisa, a importância da pesquisa, citou a química... A área da saúde, por si só, acho que é a área em que fica mais fácil exemplificar a situação de uma universidade no ensino, na pesquisa e na extensão, né...
Resposta:
Verdade.
Pergunta:
Fala um pouquinho como funcionam essas três etapas do curso de nutrição da USCS.
Resposta:
Graduação seria o ensino, a pesquisa e a extensão. Então Luciano, é logico que a pesquisa não é para todos, nem todos os alunos têm interesse em ser pesquisador, e isso eu acho que é saudável, cada aluno tem uma preferência por atuação em determinadas áreas. O que o curso tem que oferecer são as possibilidades de, não almejando que todos os alunos façam a Iniciação Científica, não almejando que todos os alunos tenham a atuação em uma clinica ou em uma Unidade Básica Comum com o projeto de extensão, mas eu acho que é importante que o curso ofereça todas as possibilidades em relação ao ensino, à pesquisa e à extensão, e nós temos essa oferta. No momento em que você tem um curso de graduação com uma carga horária suficiente, não nivelando pelo mínimo. No momento em que nós temos estágios curriculares com uma carga horaria muito importante para a prática do aluno, já que os estágios curriculares devem completar, no mínimo, 20% da carga horária total do curso, se você pensar em um curso com mil e duzentas horas, seiscentas horas, seiscentas e quarenta horas é suficiente; nós temos umas mil e vinte horas de estágio e isso foi uma coisa criada pela professora Celeste e mantida, eu faço questão de manter também essas mil e vinte horas são quase que o dobro do que se oferece aí em estágios e por quê? Para que o aluno tenha vivência prática. [1h05'] Então ele vai ter estágios curriculares supervisionados no sétimo e no oitavo semestre, essa vivência prática junto ao nutricionista na clínica de nutrição e saúde pública é um diferencial do curso, esses atendimentos que nós oferecemos para a população de forma gratuita na clínica são uma extensão, fora os trabalhos que os alunos realizam com os professores em unidades de saúde através dos projetos de pesquisa, iniciação científica, ou nos estágios de observação. Então o curso oferece as possibilidades, os alunos são quem buscam dentro daquilo que é o seu perfil, aquilo que melhor encaixa o que melhor supre a sua necessidade.
Pergunta:
Rita, se você fosse, assim como a professora Celeste fez com você lá, entrar em contato com alguém, falar: ‘Olha, tem aqui uma universidade, vem para cá'... Como você definiria essa universidade? O que você falaria para explicar o que é a USCS hoje para alguém que não a conhece?
Resposta:
Como que a convidando para vir trabalhar? Bom, USCS hoje é uma universidade que se consolidou no município do ABC, eu creio que seja uma unidade de referência. Nós começamos no curso da saúde de forma muito tímida, eram quatro cursos, e hoje nós crescemos muito. Temos hoje curso de odontologia muito recente, curso de medicina, além do curso da nutrição, da enfermagem, da educação física, da fisioterapia e da farmácia, então nós estamos consolidados em termos de área da saúde, ganhamos essa visibilidade e eu creio que graças a ela é que nós conseguimos... Hoje eu acho que da escola de saúde, a que tem o maior número de alunos e começamos de uma maneira bastante tímida aqui. Outra coisa que eu apresentaria seria um diferencial para que alguém, por exemplo, pudesse fazer parte de nosso corpo docente, da nossa equipe de trabalho, é essa questão da USCS ser uma universidade séria, de que nós não estamos sendo pressionados para nivelar por baixo, nem currículo, nem professores. Hoje nós temos um curso alinhado com as diretrizes curriculares, alinhado ao mercado de trabalho, nós não podemos perder essa visão, o aluno está ali e tem que ir para o mercado de trabalho, por isso essa manutenção de mil e vinte horas é muito importante, nós temos muitos ex-alunos que foram contratados como aconteceu comigo: você faz estágio, você mostra competência, seriedade, comprometimento e a instituição, assim que precisa de alguém, vai lembra de você, nós temos vários ex-alunos no mercado de trabalho e contratados por locais nos quais eles passaram enquanto estagiários. Isso eu acho que demonstra a transparência do curso. E a questão do corpo docente também: nós trabalhamos muito bem, Luciano, é uma equipe que vem por concurso público, então não é aquele que indicou, vem por concurso público, mas é uma equipe bastante coesa, isso desde a área de Núcleo Comum, então é uma equipe que se apoia, que quando falam: ‘Vamos fazer uma ação', todo mundo se envolve, então isso eu acho atrativo para hoje docente que está com tantas dificuldades de trabalho, isso é um atrativo importante: vir para uma instituição na qual você vai ter um apoio, um corpo docente que apoia que desenvolve ações me conjunto de fato, com uma estrutura muito boa, com a inserção dos alunos, o percurso do aluno, o seu percurso acadêmico é inserido em várias atividades, inclusive com ação, isso a diretriz fala muito claramente que a formação do aluno da área da saúde, seja qual curso, tenha que ser direcionado diretamente ao SUS, o Sistema Único de Saúde do país, nós usamos isso como uma linha de base, não só o curso de nutrição, mas todos os cursos formam seus alunos para o Sistema Único de Saúde, porque ele está crescendo e nós precisamos disso.
Pergunta:
Nós já estamos chegando à fase final de nosso papo, mas eu queria que você me dissesse se vem alguma coisa a cabeça, de todos esses anos aqui na USCS, alguma história, alguma curiosidade, algo que você ache que seria bacana destacar ao projeto de memórias, que só você tem, uma visão sua [1h10'] desses anos aqui na universidade, uma aula, um acontecimento...
Resposta:
Está bom. Pode ser só um copinho de água agora? [risos]
Pergunta:
Pode.
Resposta:
Está secando aqui. [risos]
Pergunta:
Agora a gente começa a vender... [risos]
Resposta:
AH! Depois de certo tempo né [risos] você está igual, devido a certas proporções, igual à tia do colégio né, primeiro da e depois cobra...
Pergunta:
Exato. É daí que a gente tirou mesmo o exemplo. Primeiro a gente dá de graça e depois a gente começa a cobrar dez reais o copo. [risos] Mas já estamos acabando, não vamos ____ muito.
Resposta:
É? Deixa-me entender então o que seria o que você pensou agora?
Pergunta:
Ah, uma curiosidade, uma história, alguma coisa que aconteceu, sabe... Mas se não vier nada na cabeça nesse momento, não tem nenhum problema, geralmente a gente desliga a câmera e lembram: ‘Nossa, tinha um dia em que eu estava conversando com a professora, e ela falou isso, a gente foi lá e pensou aquilo... ' uma coisa desse tipo...
Resposta:
Um fato atípico né?
Pergunta:
É. Qualquer coisa, não precisa ser muito atípico, pode ser algo típico também, alguma coisa que... Mas, de novo, a ideia é que venha algo a cabeça naquele momento, mas a ideia da história oral é a gente não ficar preso àquela história oficial, ter aquelas histórias que se nós não estivéssemos batendo esse papo, muito provavelmente ninguém saberia como aconteceu isso ou aquilo...
Resposta:
Vamos ver se eu me lembro de alguma coisa que eu já não tenha falado...
Pergunta:
Caso você queira, antes da gente ir para essa, eu te faço mais uma e depois a gente retoma, mas se não tiver também, tranquilo.
Resposta:
É. Eu estou tentando imaginar. Nós participamos de algumas feiras que foram bem interessantes...
Pergunta:
Com esses grupos de alunos né... Têm grupos de alunos que ás vezes saem algumas coisas ali, histórias de superação...
Resposta:
Eu me lembrei de um fato que eu acho que foi no mínimo engraçado. Nós estávamos convidados pelo departamento de marketing a participar de uma feira de vestibular, foi lá no pavilhão do Anhembi, Expocenter, então se montou ali um espaço bastante grande e eu levei alunos, porque como professora eu fui e levei um grupo de alunos para poder conversar com a moçada porque quem vem até o stand, quer saber informações sobre o curso, informações sobre mercado de trabalho, informações sobre mensalidade... E eu julguei que seriam interessantes que os alunos de diferentes séries pudessem estar presentes porque é a linguagem da moçada né. E eu me lembro muito bem de que eu estava ali com o grupo, talvez uns cinco, seis alunos que toparam ir de diferentes séries, e muito frequentemente vinham meninas que queriam informações sobre nutrição e elas queriam saber se aprendiam a cozinhar [risos], os alunos ficaram indignados, eu me lembro de que uma aluna daquelas mais expansivas veio muito brava em um dado momento: ‘Professora, veja que absurdo', eu falei: ‘Nossa, o que aconteceu? ‘, pensei que ela fora de alguma maneira contrariada, foi agredida em palavras... ‘O que aconteceu?', veio uma menina do pré-vestibular com a mãe e se dirigiu a ela falando: ‘Mas o que a gente estuda em nutrição?', e a mãe falou: ‘A COZINHAR!' [risos], a aluna olhou para a mãe e falou: ‘Não, não é bem assim', ‘Como assim? Vocês não vão aprender a ir para a cozinha e cozinhar? Porque ela não sabe nada! Ela não sabe diferenciar uma verdura de um legume, ela precisa fazer esse curso!', a aluna foi ficando vermelha, foi ficando vermelha e falou: ‘Não minha senhora. A senhora está enganada. Nutrição não é gastronomia. A nutrição não é só preparo de alimentos, a gente estuda a ciência da nutrição', e passou... Aí ela veio muito brava, muito brava porque ela falou: ‘Imagina professora, isso é um conceito que muitos têm por aqui de que nutrição ser nutricionista é ser uma cozinheira de luxo, isso é um absurdo!' [...] Eu acho que isso me marcou porque os alunos estavam muito conscientes do que era a formação deles, da ciência embutida [1h15'] na nutrição, a ponto de ficar indignada com uma mãe que queria que a filha aprendesse a cozinhar e por isso queria que ela fizesse nutrição. Então isso foi uma coisa engraçada...
Pergunta:
Tem alguma coisa do seu dia a dia, do seu cotidiano, que os alunos, por exemplo, nem desconfiam? Estou dando esse exemplo porque estávamos conversando com um p